30 Dec, 2010

O fenômeno climático La Niña ganhou força nas últimas semanas e reduziu subitamente o volume de chuvas na Argentina, forçando os produtores de soja a recalibrar suas estimativas para a nova safra (2010-11). Diante do equilíbrio global entre oferta e demanda, as notícias provenientes da Argentina fizeram a cotação da soja disparar em Chicago. Ontem o bushel (27,2 quilos) do grão para entrega em março subiu 2,50 centavos de dólar e fechou a US$ 13,87, o mais elevado patamar em 28 meses. "Hoje, Chicago está vendo a América do Sul mais do que o Hemisfério Norte", disse ao Valoro consultor Gustavo María López, diretor da Agritrend, para quem os preços vão se sustentar no nível atual, equivalente a pouco mais de US$ 500 por tonelada. No fim das contas, quem pode se beneficiar da situação é o Brasil, que está sofrendo menos com a falta de chuvas, sobretudo no Cerrado. Os produtores brasileiros, caso consigam manter uma boa produtividade, podem ser "premiados" pelos preços em alta causados pelas novas incertezas da Argentina. As chuvas alcançaram apenas 25% da média histórica em novembro na Argentina e devem terminar este mês com menos de 60% do volume habitualmente registrado em dezembro. O governo ainda não refez seus cálculos, mas analistas privados trabalham com um cenário entre 43 milhões e 48 milhões de toneladas, ante a perspectiva inicial do Ministério da Agricultura de 52 milhões de toneladas. O nível exato de frustração depende do rigor do clima no início de 2011. De acordo com a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, tornaram-se irreais as perspectivas de repetir a área plantada de 19 milhões de hectares da safra passada (2009-10). A nova previsão é de 18,5 milhões de hectares. Mas esse não é o maior problema. Causa preocupação à entidade o atraso do plantio. Às vésperas do Natal, ele havia atingido 75% da cobertura esperada. Na mesma época de 2009, 86% da área já estava plantada. O agrônomo Eduardo Sierra, especialista em climatologia da entidade, diz que não se espera "nada comparável à seca de 2008" - a pior no país em 75 anos. Ele lembra que os efeitos do fenômeno foram moderados até agora nos Estados brasileiros de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mas sentidos com maior força no Uruguai e norte da Argentina. Os preços devem continuar favorecendo a Argentina e compensar parte da frustração com o desempenho da soja. No ano em que a Argentina escolherá o sucessor da presidente Cristina Kirchner, o governo terá quase US$ 9 bilhões em receitas fiscais advindas do campo - US$ 4 em cada US$ 5 serão oriundos das "retenções" da exportação de soja. Fonte: Valor Online