02 Jul, 2010

A linha preta do gráfico acima apresenta o comportamento mensal da anomalia da temperatura da superfície do mar (°C) observado no período de Jul/09 a Jun/2010. Enquanto a linha na cor AZUL representa a previsão mensal da anomalia da temperatura da superfície do mar (°C) para o período de julho de 2010 a março de 2011. Observar que a previsão indica um período de anomalias negativas, o que caracteriza o fenômeno La Niña (Fonte: NWS/NCEP/NOAA). Atenção! Está confirmado. Vem aí um novo episódio do fenômeno La Niña! Depois de um período de aproximadamente 01 (um) ano com águas aquecidas (El Niño), desde junho se observa um processo de resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial, indicando o retorno do fenômeno La Niña e alterações no clima já na próxima Primavera. O resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial deve aumentar gradualmente no decorrer deste inverno, com o La Niña totalmente configurado durante a Primavera e permanecendo durante o verão 2011. A previsão é de um episódio de intensidade moderada a forte e deve durar pelo menos até o outono de 2011 (ver gráfico). Lembrando ainda que o último La Niña ocorreu no Verão 2007/2008. Porém, dadas as características como intensidade, rapidez na formação e provavelmente duração, o episódio deste ano está muito semelhante com o observado no segundo semestre de 1998 e verão 1999. Veja abaixo os principais impactos da La Niña para o segundo semestre de 2010 e verão 2011: SOJA: Para a lavoura de soja do Brasil o Fenômeno La Niña tem dois impactos bem caracterizados: Primeiro atrasa o retorno das chuvas no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. Enquanto para as lavouras do Sul do Brasil e também de Mato Grosso do Sul reduz a incidência de chuva e aumenta o risco de estiagens regionalizadas no verão. Para a safra 2011, portanto, muda o cenário climático, principalmente quando comparado com o observado na safra passada. O retorno das chuvas este ano deve ocorrer somente no final de outubro e no decorrer de novembro, mesmo assim de forma muito irregular, o que deve implicar no atraso do plantio para as lavouras de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins. Durante o verão as chuvas nesses estados devem apresentar um comportamento médio, com o risco das chuvas se prolongarem até abril e meados de maio. Já as lavouras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e também de Mato Grosso do Sul não devem enfrentar grandes problemas na fase de plantio entre outubro e novembro, porém devem considerar o risco de estiagem durante os meses de verão. Inclusive, a continuidade do La Niña remete para um outono também com chuvas abaixo da média. MILHO VERÃO: Cenário climático para a lavoura de milho é muito semelhante às condições da lavoura de soja descritas acima. O risco aumenta principalmente para as lavouras do Sul do Brasil em função das estiagens no verão. Porém, para as lavouras do norte/noroeste do Rio Grande do Sul e do oeste de Santa Catarina que são implantadas mais cedo (em agosto) ainda podem se beneficiar das chuvas da primavera, podendo assim escapar do risco de estiagem que aumenta a partir de dezembro e durante o verão. Para as lavouras de milho do Nordeste do Brasil, incluindo o Agreste e Sertão Nordestino, a presença do La Niña num primeiro momento favorece para um bom período de chuvas ("inverno nordestino") que vai de fevereiro a maio. No entanto, a qualidade do período de chuvas ainda depende das condições do Oceano Atlântico, que no momento ainda não estão definidas. De qualquer forma, o cenário climático para 2011 é bem melhor que o observado na safra deste ano. LEITE e CARNE: Requer atenção, pois o período seco este ano começou antes e deve se estender pelo menos até outubro. Para o Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil isso implica num período maior de suplementação alimentar dos animais. Isso diferencia completamente do ano passado(2009) que teve um período seco curto e com boa oferta de pastagem em praticamente todo ano. Essas condições devem influenciar diretamente na produção de leite e carne, com uma tendência de aumento do custo de produção. Nessas regiões as condições de produção de regularizam com o retorno das chuvas no verão. Já para o Sul do Brasil as condições climáticas vão favoráveis até a primavera deste ano. Porém, como o La Niña está associado com escassez de chuvas no verão e podendo ainda se prolongar até o outono de 2011, se pode esperar um cenário mais adverso para a produção de pastagem no próximo ano, o que pode indiretamente afetar na produção de leite e carne dessa Região. ENERGIA: Período seco mais longo nos reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste significa uma menor oferta de energia no segundo semestre de 2010, o que implica na manutenção da expectativa de elevação do preço da energia pelo menos até o final do ano. Para 2011, com a presença do La Niña, o cenário muda primeiramente para as Bacias Hidrográficas do Sul do Brasil, que a partir do verão entram em um período de deficiência de chuva. Para as Bacias Hidrográficas do Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte, a previsão é de uma recuperação dos níveis com as chuvas do verão e do outono de 2011. O prolongamento do La Niña em 2011 é que vai definir o nível de problemas e riscos do Sistema para o segundo semestre. Lembrando que em períodos longos de La Niña (duração maior que um ano) o Sistema de Geração de Energia Hidrelétrica do Brasil apresenta deficiência. Paulo Etchichury Fonte: Somar Meteorologia